(Padre Manoel Bernardes. Nova Floresta. Livraria Chardron, Porto: 1911, 5º tomo, p. 175-6).
“Nem se engane alguém com as especiosas aparências destes homens [os hereges], quando mostram nas igrejas maior modéstia que muitos católicos, ou se portam liberais e afáveis, ou afetam erudição e letras. Porque destas primeiramente têm, quando muito, só as naturais juntas com tal arrogância e fasto, que com dois dedos de eloqüência latina ou grega, presumem dominar a Sagrada Teologia e interpretar as Divinas Escrituras.
Mas, se alguém os provoca a desafio, ou lançam tudo a gritaria e descompostura, ou não aceitam, como desavergonhados, sobre covardes e ignorantes. Isto experimentou várias vezes o nosso São Francisco de Sales nos países dos Chablaix. E de virtudes, impossível é terem as verdadeiras e sólidas, faltando-lhes a fé, fundamento de todas e princípio de agradar a Deus, Autor delas.
Só lhes ficaram algumas cascas, que lês guardam com suma hipocrisia, e que os demônios, que são os seus padrinhos, ou familiares e assessores (como sentem os Santos Padres), lhes não impugnam, ou por não espantar a caça, que está segura no laço da condenação, ou porque serve também ao seu intento de pegar o contágio aos bons, que pensam que também eles o sejam.
Porque, como disse São Bernardo, todo herege é ovelha na lã, raposa nas entranhas, lobo nas obras: ‘Haeretici oves sunt habitu, astu vulpes, actu et crudelitate lupi’. Querem parecer, mas não ser bons; e querem ser, mas não parecer maus, porque o parecer bons lhes serve de que os não tenhamos a eles por maus, e de que sejam piores, sendo maus não só para si, senão para quem se lhes chega, tendo-os por bons”.