CAPÍTULO VI - UM RECADO PARA OS CASADOS :
O sexto mandamento não é só para os jovens. É para todos, também para os casados. E aliás, para o casado, o pecado contra a castidade é mais grave do que para o solteiro. O solteiro, pecando contra a castidade, comete fornicação; o casado, adultério; que é um pecado gravíssimo. O adúltero peca formalmente: 1) contra o próprio corpo; 2) contra o cônjuge; 3) contra a Igreja, e 4) contra Deus.
1) Contra o próprio corpo, conforme a palavra de São Paulo aos Coríntios: "Fugi da impureza. Qualquer outro pecado que o homem cometa é fora do corpo; mas quem comete pecado de impureza peca contra o seu próprio corpo."
2) Contra o cônjuge, sendo infiel ao juramento de fidelidade feito diante de dezenas de testemunhas.
3) Contra a Igreja, porque o seu compromisso foi feito solenemente diante da Igreja reunida para testemunhá-lo.
4) Contra Deus, cuja bênção foi invocada para que os nubentes fossem fiéis um ao outro até a morte.
Quem casa, quer casa, diz o ditado. Prepare sua casa antes de se casar. Não vá morar com parentes. Não dá certo. Os parentes são mestres em intervir na vida e na intimidade do casal. Não o fazem por mal, e nem percebem que estão atrapalhando. Mas atrapalham demais. É preferível adiar o casamento até que possam ter a sua casa, nem que seja alugada. QUEM CASA, QUER CASA.
Prepare-se bem para o casamento. Casamento é coisa muito séria. A preparação já começa no namoro: namoro santo e respeitoso, seguido de noivado respeitoso e santo, dá casamento santo. Namoro e noivado curtido no pecado dá casamento infeliz. A gente colhe o que semeia. Semeie santidade e colherá santidade. Plante pecado e colherá tudo o que não presta. Inclusive o adultério.
O adultério é pecado gravíssimo. É tão grave que nos começos da Igreja só tinha perdão uma vez na vida. O adúltero tinha que fazer penitência o ano inteiro, e depois de readmitido na Igreja, se recaísse não tinha mais perdão. Era "entregue a Satanás", como São Paulo o fez com o incestuoso da Igreja de Corinto. (1Cor 5,1)
Muitos que chegaram a uma situação crítica no seu matrimônio, a uma situação limite, costumam dizer: "Eu fiz o que podia. Não dá mais. Eu tenho direito de ser feliz!"
Sim, você tem o direito de ser feliz, mas não confunda felicidade com pecado. "O que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a sua alma?" (Mc 8,36) O que adianta você ser feliz a vida inteira, no pecado, e acabar perdendo a sua alma?
Coloque de um lado o compromisso assumido com Deus e com o cônjuge, e de outro lado a sua paixão. Com o seu compromisso está Jesus; com a sua paixão (a mulher, o homem) está Satanás. A quem você escolhe? O que você escolher, você terá.
Deus o criou livre e respeita a sua liberdade. O seu destino - salvação ou perdição, vida ou morte - é escolha sua. Eis a palavra de Deus: "Ponho hoje diante de ti a vida e a morte, a bênção e maldição. Escolhe..." (Dt 30,19) O que você escolher terá.
Tudo isso é colocado assim diante de você, em termos dramáticos, para sacudi-lo, para acordá-lo; porque a paixão entorpece e cega a alma, tirando-lhe a capacidade de raciocinar. A Palavra diz que "a paixão é violenta como o inferno" (Cant 8,6).
O que vou dizer para a esposa, vale da mesma forma para o marido.
Se você já está separada, mesmo que o seu companheiro já esteja morando com outrem, ore. Tudo pode ser mudado pela oração. Ore pela conversão de seu cônjuge. Se ele se converter ele voltará forçosamente para você. Ruim com ele, pior sem ele. Com ele você se salvará. Sem ele... com outro, você se condenará. Ou então fique sozinha. Antes só do que mal acompanhada. De acordo? E os filhos, onde ficam? Se se entregarem aos vícios ou às drogas, de quem será a culpa?
Abafe a voz do egoísmo, deixe falar a razão e a fé.
Um dia você amou o seu esposo. Tanto amou que decidiu se comprometer a vida inteira com ele. Depois, o tempo passou, veio a tentação e você caiu; mas o amor não morreu. O amor nunca morre. Apenas ficou sepultado debaixo de cinzas. Sopre com força. As cinzas voarão e as brasas do amor aparecerão de novo, mais vivas do que nunca. Faça isso. Sopre forte com a oração e verá o resultado. A paixão de agora se dissolverá como a fumaça ao sopro do vento, e o primeiro amor, o verdadeiro amor, ressurgirá muito mais belo do que antes.
Aí ficam esses fatos e exemplos para a sua leitura e meditação. Eles são de molde a provocar em você um profundo arrependimento de todos os seus pecados, preparando-o para uma frutuosa e excelente confissão.
CAPÍTULO VII - BUSQUE A SANTIDADE
Lembre-se da palavra do Senhor: "Pedi e recebereis, BUSCAI E ACHAREIS, batei e se vos abrirá. Porque todo aquele que pede, recebe; todo aquele que BUSCA, ENCONTRA; todo aquele que bate, se lhe abre. Ou qual é o pai que se o filho lhe pedir pão lhe dará uma pedra? E se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai celestial dará boas coisas aos que lho pedirem!" (Mt 7,7-11)
Siga estes passos:
1) Confesse-se com freqüência
Não deixe passar um ano inteiro sem se confessar. Nossa Senhora em Medjugorje pede que seus filhos se confessem regularmente uma vez por mês. E lembre-se: confissão, como já dissemos, é banho espiritual. Você que toma banho diariamente para manter sua higiene corporal, faça o mesmo para a sua higiene espiritual: confesse-se com freqüência. Os pecados leves e os pecadinhos de estimação também sujam a alma, assim como o suor e a poeira sujam o corpo.
2) Participe da Santa Missa
Todos os domingos e dias santos. É pecado grave faltar à missa de preceito. Deus lhe deu seis dias para trabalhar, e reservou um para Ele, o domingo, o DIA DO SENHOR. Neste dia Ele espera por você para um banquete em Sua casa (no templo). É o banquete eucarístico. Não falte! A menos que você esteja doente, de cama. Se faltar, estará desprezando o convite divino, estará desprezando o Senhor. É pecado muito grave. Pense em tudo o que você deve ao Senhor: a vida, a saúde, os bens materiais e espirituais... Quanto você tem que agradecer!... Não falte à Santa Missa! Ela é o seu principal alimento, é o alimento dos fortes. Se for possível, participe todos os dias. Não é favor que você presta a Deus, é privilégio que Ele lhe dá.
3) Reze o santo rosário
Reze-o todos os dias. Ou pelo menos o terço. Se você é casado, reze junto com a família. A família que reza unida, permanece sempre unida. Nossa Senhora prometeu inúmeras graças e bênçãos àqueles que rezarem diariamente o santo rosário.
E lembre-se: o santo rosário é uma oração eminentemente bíblica. Rezar o rosário é rezar a bíblia. Vejam bem: o rosário consta de 15 Pai-nossos, a oração mais santa e mais completa que existe, ensinada pelo próprio Jesus; 150 Ave-Marias, saudação que veio do céu, palavras que o próprio Deus colocou na boca do anjo Gabriel e outras que o Espírito Santo pôs nos lábios de Isabel (Lc 1,28 e 42); e 15 Glórias ao Pai, louvor de que estão cheias as cartas de São Paulo.
Preste diariamente com muito carinho e emoção esta homenagem à sua Mãe celeste, e assim estará cumprindo a profecia que o Espírito Santo colocou nos lábios de Maria a respeito dela mesma: "Eis que doravante todas as gerações proclamarão os meus louvores." (Lc 1,48). O rosário é um gesto de suprema delicadeza com Maria. O nome já o diz: rosário, um buquê de rosas. Imagine você um filho carinhoso que sabendo do gosto de sua mãe por determinada flor, lhe prepara e oferece todos os dias um ramalhete dessa flor. Pois bem: as flores prediletas de Maria são as rosas (Ave-Marias) do rosário. Vamos, dê-lhe essa alegria. Já pode imaginar o seu lindo sorriso, acompanhado de uma bênção muito especial para você.
4) Participe de um grupo de oração, ou de um cenáculo, ou de qualquer outro em sua Paróquia
É um dos melhores meios para você aprender a orar, para conhecer e viver a Palavra de Deus, para crescer na santidade. Sempre tem um bem pertinho de você. Informe-se na sua paróquia.
5) Jejue pelo menos uma vez por semana
O jejum faz bem ao corpo e à alma, e confere uma força extraordinária à oração. Jesus afirmou que há uma espécie de demônios que só se expulsam com JEJUM E ORAÇÃO. (Mc 9,29). Como jejuar? De manhã, tome o seu café normalmente. Durante o dia coma pão, de preferência pão integral, e beba água. A água faz muito bem. Mesmo nos dias em que você não jejue é bom você beber de um a dois litros de água por dia. E coma pão, também espaçadamente, duas a três fatias a intervalos regulares. O que é preciso é que o estômago não fique vazio, por causa dos ácidos estomacais, e para evitar tonturas e dores de cabeça. Há um livrinho precioso do Pe. Jonas Abib sobre o assunto. Leia-o: "Práticas de Jejum." (Editora Canção Nova - Cachoeira Paulista - SP.)
6) Leia, estude, rumine a Palavra de Deus
"O homem não vive só de pão, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus." (Mt 4,4). O que é o alimento para o corpo, é a Palavra de Deus para a alma. Mas a bíblia é um livro difícil; se não souber usá-la, você logo se cansará. Por isso aqui também se recomenda um outro livrinho do Pe. Jonas: "A bíblia no meu dia-a-dia." Ele apresenta ali um roteiro de leitura que levará você não só a entender melhor a bíblia, como a ter um grande amor pela Palavra de Deus.
7) Pratique obras de misericórdia
Isto é, ame concretamente o seu irmão, principalmente os mais necessitados. Amor não é sentimentalismo. Pode e até deve ter uma expressão sensível, envolver a sensibilidade. Mas se não se traduzir em atos concretos será um amor falso. "Se a um irmão ou a uma irmã faltarem roupas e o alimento cotidiano, e algum de vós lhe disse: "Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos", mas não lhes der o necessário para o corpo, de que lhes aproveitará? Assim também é a fé (ou a caridade): se não tiver obras, é morta em si mesma." (Tg 2,15-17). E Jesus, na sua bondade e misericórdia, já nos deu o gabarito para o vestibular da salvação: leia Mt 25,31-46.
Estas são as obras de misericórdia:
Corporais: Dar de comer a quem tem fome.
Dar abrigo ao desabrigado.
Vestir os nus.
Visitar os encarcerados.
Visitar os enfermos.
Sepultar os mortos.
Espirituais: Ensinar os ignorantes.
Dar bom conselho.
Corrigir o que erra.
Perdoar as injúrias.
Consolar os tristes.
Sofrer com paciência os defeitos do próximo.
Rezar pelos vivos e defuntos.
8) Engaje-se numa pastoral de sua paróquia
Finalmente, engaje-se nos trabalhos de sua paróquia. Há muita gente acomodada na Igreja, que só quer receber, só sabe criticar, e não move sequer uma palha para ajudar. A Igreja é uma família, uma grande família, dentro da qual todos têm responsabilidades, do maior ao menor. O interesse de um é o interesse de todos. Não queira ser você um parasita. Busque a santidade. Engaje-se!
9) Alguns conselhos para a sua caminhada em busca da santidade:
Ponha em prática todos os dias os mandamentos de Deus.
Trate com respeito aos mais velhos.
Lembre-se que Deus o vê em todo o lugar.
Guarde a sua língua de toda palavra má ou inútil. ("No dia do Juízo o homem terá de prestar conta de toda palavra inútil que tiver proferido durante a vida" - Mt 12,36).
Evite o riso excessivo ou ruidoso.
Entregue-se freqüentemente à oração e à leitura espiritual.
Não satisfaça os desejos da carne; ao contrário, mortifique-a.
Não queira ser tido como santo, mas procure sê-lo de verdade.
Não faça a outrem o que você não gostaria que lhe fizessem.
Não ande atrás de delícias.
Cultive a humildade, fuja da soberba.
Não se dê à bebida, não seja guloso nem preguiçoso (a gula e a preguiça alimentam a luxúria).
Nada anteponha ao amor de Jesus Cristo.
Evite a murmuração, os palavrões e a fofoca.
Não pratique injustiça, mas suporte com paciência as que lhe forem feitas.
Não retribua maldição com maldição; abençoe sempre.
Coloque toda a sua esperança em Deus.
Tudo que houver de bom em você, atribui-o a Deus e não a si mesmo.
Quanto ao mal, porém, saiba que é sempre obra sua e a si mesmo atribua-o.
Deseje a vida eterna com toda a cobiça espiritual.
Lembre-se dos seus novíssimos e jamais pecará (morte, juízo, inferno e paraíso).
CAPÍTULO VIII - MANTENHA PURO O SEU CORAÇÃO
Nos capítulos V e VI falamos dos pecados de fornicação e de adultério.
Mas há um pecado de impureza - este também grave - que costuma ser muito praticado, principalmente entre os jovens e adolescentes: é o pecado da masturbação. Sua gravidade pode ser maior ou menor, segundo as circunstâncias; mas em qualquer dos casos ele paralisa o progresso espiritual, quando não prepara o caminho para o pecado mortal.
De fato, a masturbação é um ato deprimente, que humilha e degrada a quem o pratica, porque masturbar-se é "praticar sexo consigo mesmo." Não tem o menor sentido.
Reflita bem: quando você se masturba, você joga fora, joga no lixo um pouquinho de si mesmo; porque no esperma expelido você perde centenas de milhões de sementes vivas (espermatozóides) que eqüivaleria, cada um, à possibilidade de um novo ser humano.
Se você é mulher, tem maior obrigação ainda de não se masturbar. A mulher, particularmente, experimenta como é humilhante esse ato. Há algumas que por ter caído nessa falta, carregam por anos a fio o peso dessa humilhação, chegando até mesmo a fazer confissões sacrílegas pela vergonha que sentem em confessar o seu pecado. Quantas vezes temos verificado isso em nosso ministério!
Lute contra esse vício. Sua vitória lhe dará confiança em si mesmo e autodomínio, virtudes que lhe serão de grande valia em muitas outras situações da vida.
Remédios contra o vício
1) A oração.
2) Fuga. No momento da tentação saia, vá dar um passeio rezando o terço, ou se distraia de alguma maneira. É a cabeça, a mente, o cérebro que comanda o ato de se masturbar. Distraia-se e a tentação vai embora.
3) Se o vício for muito arraigado, use de violência. Consigo mesmo, é claro. "O reino dos céus sofre violência, e só os violentos o arrebatam." (Mt 11,12)
Então, cada vez que você cair, faça um dia inteiro de jejum. Há quem aconselhe a fazer uma auto-flagelação (dar uma surra em si mesmo com um chicote) dê meia dúzia ou mais chibatadas bem doídas. O corpo exigiu um prazer proibido, sofra agora as conseqüências. Isso funciona como aquilo que em psicologia se chama reflexo condicionado. O que é isso? Quando surpreendemos um animal fazendo alguma coisa errada, por exemplo xixi dentro de casa, nós esfregamos o seu focinho no xixi e lhe damos algumas palmadas. Depois de repetirmos isso algumas vezes, ele nunca mais o fará.
Você também pode inventar a sua própria mortificação. Use criatividade. Só não use moleza consigo mesmo, porque do contrário estará enganando a si próprio e não conseguirá se libertar. Sobretudo corte drasticamente de sua vida revistas e filmes pornográficos. Se não o fizer, é impossível você se libertar. Use a sigla PHN.
Faça todos os dias logo de manhã esta oração:
Senhor, POR HOJE NÃO vou me masturbar. Liberta-me desse vício, Senhor! Quero conservar meu corpo e minha alma bem limpos para ti. Eu te prometo! POR HOJE NÃO vou pecar, nem amanhã, nem depois, nem nunca. Conto com o auxílio de tua graça. Maria Santíssima, mnha Mãe, ajuda-me a ser fiel ao meu compromisso. P H N... POR HOJE NÃO! AMÉM.
CAPÍTULO IX - DISTRAÇÕES NA ORAÇÃO
Uma queixa que a gente ouve a cada momento no confessionário é a seguinte: "Padre, eu parei de orar. Eu não consigo me concentrar. Mal começo a orar, mil distrações, pensamentos e imagens me vêm à cabeça. O que fazer?"
O que fazer? É a pergunta angustiada de tantas almas sedentas de Deus, e por isso mesmo sedentas de oração. Mal sabem elas que é a dificuldade mais comum na vida de tantos santos, inclusive de místicos como Santa Teresa d'Ávila, que atribuía isso à sua imaginação fertilíssima, a que ela chamava de "a louca da casa."
O problema, portanto, está na imaginação. O que fazer? Simplesmente educar a sua imaginação. Mas aqui vai todo um trabalho, muito sacrifício e persistência. Aliás, o que se consegue de bom na vida sem trabalho, sem sacrifício?
Não se assuste. O difícil é começar. Depois, à medida que vamos nos esforçando, tudo vai se tornando mais fácil. Comece agora mesmo. Vou lhe dar as dicas para o caminho.
Primeiro, com ou sem distração, aplique-se á oração. Não tanto como você fazia antes, mas mais ainda.
Segundo, elimine as causas. Vai arrancando de seus hábitos tudo aquilo que entulha a sua mente de imagens inúteis e perniciosas: leituras frívolas (romances, revistas, gibis... e até jornais). Sim, até mesmo jornais. Se você precisa ou gosta de se manter informado do que vai pelo mundo, percorra rapidamente as manchetes e leia só o que interessa. Mas faça-o em leitura dinâmica para não perder muito tempo. Elimine principalmente a televisão. Esta (afora canais como a CANÇÃO NOVA, REDE VIDA, SÉCULO XXI e outras desta mesma linha que possam vir a existir) é a maior fonte de corrupção moral do indivíduo e da família.
Você quer se manter informado? Se for numa ótica religiosa, para voc~e se orientar e orientar aqueles que dependem de você, e principalmente orar pelos irmãos que sofrem neste mundo enlouquecido, ainda vá lá. Mas faça-o com sobriedade. Veja o que São João diz a respeito do mundo em sua primeira carta:
"Não ameis o mundo, nem as coisas do mundo. Se alguém ama o mundo, não está nele o amor do Pai. Porque tudo o que há no mundo - a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, - não procede do Pai, mas do mundo. O mundo passa com suas concupiscências, mas quem cumpre a vontade de Deus permanece eternamente." (1Jo 2,15-17)
É claro, estou escrevendo para gente que fez uma opção radical por JESUS.
Terceiro, aprenda a contemplar. Lembre-se de que na recitação do terço nós devemos contemplar os mistérios. Pois bem, vamos aprender a contemplar.
Tomemos por exemplo o terceiro mistério gozoso: o nascimento de Jesus em Belém. Use a imaginação. É hora de educá-la.
Imagine uma gruta, bem grande, bem espaçosa, mais ou menos dois metros e meio do chão ao teto. É noite de luar. Faz frio. José e Maria, com seus dois jumentos chegam da cidade de Belém em busca de um abrigo, porque na ciadde ninguém os quis abrigar. José vê a gruta e agradece a Deus que veio em socorro deles. Entra na gruta e acende um fogo para aquecer o ambiente.
Vá imaginando a gruta e cada gesto de José.
Enquanto isso, Maria, grávida e quase na hora de dar à luz, espera na entrada. José, improvisando uma vassoura de ramos, está fazendo uma limpeza no local. Ali já se acha um boi, deitado e ruminando pachorrentamente. José prepara o cocho, limpa-o o melhor que pode e forra-o com bastante feno à guisa de colchão. Pronto. Agora pode entrar Maria... O resto vá você mesmo imaginando.
Depois virão os pastores, você os verá entrando, silenciosos, com todo o respeito e se prostrando em adoração ao Menino Jesus. Em seguida Maria os convida a se aproximar, e com o sorriso mais carinhoso do mundo lhes permite tomar nos braços rudes de pastores o Menino Deus. A cena é indescritível...
Tire as conclusões: Deus quis vir ao mundo assim, em pobreza total por amor a você. E você, qual o seu amor por Jesus?
E assim você trabalhará com a imaginação as cenas de cada um dos mistérios do rosário, enquanto seus lábios não param de recitar os Pai-Nossos e as Ave-Marias...
Com isso, pouco a pouco... adeus distrações.
CAPÍTULO X - MAUS PENSAMENTOS - JUÍZO TEMERÁRIO
Há muitas confissões de maus pensamentos que não passam de tentações. E tentação não é pecado. Por isso é bom que você tenha idéias claras do que é tentação, e quando ela é pecado.
Você se aflige com seus maus pensamentos e os combate.
É bom sinal. É sinal de que você não quer desagradar a Deus.
Por falta de clareza sobre o assunto, você fica com a consciência perturbada, achando que está cometendo pecado. Com esse estado de espírito é claro que você deve confessar. Cabe ao sacerdote te orientar e tranqüilizar.
Pecado, como já foi dito no cap. IV, é um ato de desobediência a Deus, em matéria grave ou leve, perfeitamente conhecida e plenamente consentida. Se você quer ou aceita livremente o mal que lhe é proposto, você peca (pecado mortal ou venial, conforme a gravidade maior ou menor da matéria), mesmo que não chegue a praticar o ato, como disse Jesus: "Todo aquele que olhar para a mulher com o desejo no coração de possui-la, já cometeu adultério." (Mt 5,27)
Desejo consentido e aceito, é claro. Pois o pecado, antes de ser ato externo, já foi consumado no interior do coração. Se você não aceita, se você combate, então não há pecado. Houve apenas uma tentação, mesmo que o tentador tenha procurado forçar a entrada...
Veja bem: nossa cabeça pode ser comparada a uma praça pública. Tudo entra em nós pelos olhos, pelos ouvidos, pela sensibilidade, que são como que ruas de acesso à praça pública de nossa cabeça. Não há jeito de impedir essa invasão.
Em volta da praça estão as casas, com seus moradores. E entre elas a sua. Na praça está o barulho, a confusão, as pessoas (umas boas, outras más).
Se alguém bate à sua porta, você vai ver quem é. E então convida a entrar ou não, conforme o discernimento.
A praça pública é a sua cabeça, a casa o seu coração. Você só deixa entrar se for alguém que lhe inspire confiança. Às vezes um ou outro mal intencionado pode querer forçar a entrada, então você lhe resiste e fecha a porta na cara. Ele não entra, mas continua na praça, isto é, na sua cabeça. Entendeu?
Não ligue para os maus pensamentos, por piores que sejam. Diga simplesmente a Deus: "Senhor, vós estais vendo o meu coração, e sabeis que eu não aceito esses maus pensamentos. Renuncio a todos eles. Libertai-me deles, Senhor!"
Pode ser que a serpente, disfarçada em pessoa amiga (homem ou mulher) lhe ofereça uma maçã contaminada. E como você é louco por maçã, estende logo a mão e pega a maçã. Mas logo o seu Anjo da Guarda, pela voz da consciência, lhe adverte: "Cuidado! É veneno. Devolve!" E você imediatamente devolve a fruta ao seu portador... Pronto. Fica tranquilo! Não houve pecado. Houve apenas um combate, e você venceu. Parabéns!
Não estranhe! Um certo mal-estar sempre fica, por causa da presença do mal que se aproximou de você, e você quase aceitou. Depois da refrega, o vencedor fica um pouco cansado...
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Uma falta que precisa ser radicalmente combatida é o mau hábito de julgar o próximo: o juízo temerário, ou julgamento. Ela fere, às vezes gravemente, a menina dos olhos de Jesus: a caridade. "Este é o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei." (Jo 15,12)
"É nisto que todos saberão se sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros." (Jo 13,35)
Jesus tem palavras duras sobre isso: "Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis vós também julgados; e com a mesma medida que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claro para tirar o cisco do olho do teu irmão." (Mt 7,1-5)
Só Deus pode julgar, porque só Ele conhece os corações, só Ele sabe o que vai no íntimo do coração de cada um. "Mas quem és tu que julgas o teu irmão?" (Tg 4,12)
"Assim, és inescusável, ó homem, quem quer que sejas, se te arvoras em juiz. Naquilo que julgas a outrem, a ti mesmo te condenas, pois tu que julgas fazes as mesmas coisas que condenas." (Rm 2,1). "Se o teu irmão cai ou se levanta, isso é lá com o seu Senhor." (Rm 14,4)
Julgando o seu próximo, você estará julgando as intenções do seu coração, porque os atos tem o valor da intenção que os move.
Um fato real, acontecido com um sacerdote amigo pode clarear bem isso.
Tratava-se de um sacerdote muito digno e de moral inatacável. No seu trabalho de evangelização costumava acompanhá-lo um casal muito amigo dele. Muitas vezes, o marido não podia ir e então ia a esposa, porque ela cantava muito bem e o padre a acompanhava ao violão. Com o tempo isso acabou gerando um "dizquedizque". Certa ocasião, pela uma da madrugada, a mulher lhe telefonou desesperada, pedindo-lhe que viesse imediatamente em seu socorro. É que o marido, depois de uma violenta discussão, pegou uma arma e saiu dizendo que ia a um terreiro de macumba para acabar com a própria vida.
A praça onde moravam estava cheia de gente. Muitos viram quando o homem, que por sinal era muito conhecido, saiu queimando pneu. E viram também quando o sacerdote chegou daí uma meia hora e entrou na casa sem bater (a mulher deixara a porta só encostada para que o padre pudesse entrar assim que chegasse). E os comentários explodiram:
"Você viu? Saiu fulano e agora chega o padre!"
Durante uma meia hora o sacerdote procurou acalmar a mulher, e por fim se ofereceu a sair com ela à procura do marido nos terreiros de macumba da cidade. Nesta altura os comentários chegaram ao seu clímax.
Depois de muita procura acabaram encontrando o homem num terreiro que ele costumava freqüentar antes de sua conversão. Já estava embriagado. A custo conseguiu o sacerdote desarmá-lo e convencê-lo a voltar para a casa. Aquela noite o sacerdote passou junto do casal, aguardando a recuperação do amigo. Depois de uma longa conversa que se prolongou até às 10 horas da manhã, ele conseguiu a reconciliação do casal. Naquele dia ele salvou um matrimônio, e salvara uma alma. Mas perdeu a sua boa fama. Porque dentro de poucos dias a cidade inteira comentava o fato interpretado maldosamente pela boca daqueles maldosos boêmios. E a coisa se complicou a tal ponto que dentro de algum tempo o sacerdote teve que se ausentar da cidade por vários anos.
Veja as conseqüências de um mau julgamento. Tudo parecia incriminar o padre, inclusive o fato de sair a sós com a mulher àquela hora da madrugada.
Por mais claro e evidente que seja o ato (mau ou aparentemente mau) do nosso próximo, nunca podemos julgá-lo. Só Deus vê as intenções do coração.
CAPÍTULO XI - RETIDÃO DE INTENÇÃO
Uma boa confissão é um marco na vida do homem.
Pode ser uma virada de folha no livro da sua vida. Uma nova página começa. "Passou o que era velho, eis que tudo se fez novo." (2Cor 5,17)
Agora é viver em plenitude esta novidade de vida de que nos fala São Paulo em sua carta aos Romanos (cf. Rm 6,4), uma vida totalmente orientada para o Senhor. A confissão foi-nos presenteada no dia da Páscoa, com uma saudação de Paz, como uma fonte maravilhosa de paz. Bebemos dessa fonte e nos aproximamos confiantes do Príncipe da Paz.
É a meta da caminhada.
Experimentam-no aqueles que se puseram a caminho e não se desviaram nem para a esquerda, nem para a direita, mas foram direto ao seu objetivo: Cristo Jesus.
Jesus é o caminho e a meta. Jesus basta. Quem tem Jesus tem tudo.
E o caminho se faz no dia a dia. Cultivando o jardim ou colhendo flores; semeando o campo ou comendo seus frutos, e partilhando-os com os irmãos; sob o sol e sob a chuva, entre alegrias e dores, vencendo obstáculos, caindo e levantnado, "e assim correndo à luta que nos é proposta, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa fé, Jesus." (Hb 12,1)
Tudo o que fazemos, sonhamos ou sofremos, fazemo-lo com esse único objetivo, com essa única intenção: a glória de nosso Deus e Senhor Jesus Cristo - "Ou comais, ou bebais, ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus." (1Cor 10,31)
É isso que se chama retidão de intenção, pureza de intenção: Buscar em tudo unicamente a glória de Deus. É justamente o oposto da atitude farisaica, que faz todas as suas obras para captar a glória e o louvor dos homens. E o Senhor nos adverte: "Guardai-vos de praticar vossas boas obras diante dos homens com o fim de serdes vistos por eles. Do contrário não recebereis vossa recompensa junto de vosso Pai que está no céu." (Mt 6,1)
Fim
BIBLIOGRAFIA
1) Robert Mialhe - A MEDIDA DAS VIRTUDES - Ed. Flamboyant - (1959) - Tradução do autor.
2) Ricardo Sada Castaño, L.C. - LA CONFESIÓN - Ed. Nueva Evangelización (1999) - México
3) CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
4) Diário da Santa Faustina
Congregação dos Padres Marianos - Curitiba - PR