MATASTES OS PROFETAS?

O SOFRIMENTO E A CRUZ QUE CARREGAM:
 
 
Eis o que afirma o Emmo. Cardeal Ratzinger, respondendo à questão:
"A história da Igreja testemunha um fato particular a respeito da profecia: É que a profecia provoca sempre ofensas, tanto da parte do profeta como da parte do destinatário. Como explica este dilema?

Resposta do Cardeal:

"Que uma profecia não se possa fazer ouvir sem provocar sofrimentos tanto no profeta quanto no destinatário, não é nada de novo. O profeta é chamado a sofrer de uma forma específica: a pedra-de-toque que verifica a autenticidade de um profeta é saber se sim ou não ele está disposto a sofrer, a partilhar a Cruz de Cristo. O profeta não procura nunca impor-se, e será a Cruz de Cristo que irá verificar e confirmar a autenticidade da sua mensagem."
"A frustração é, pois, quase inevitável, sempre que se vê como a maior parte das figuras proféticas foram, enquanto vivos, rejeitados pela Igreja, pelos seus críticos e pelas suas tomadas de posição negativas. Uma grande parte dos profetas cristãos, tanto homens como mulheres, confirmam-no."

Resposta do Cardeal:

Justamente. Santo Inácio de Loyola foi preso, tal como São João da Cruz. Santa Brígida da Suécia esteve quase a ponto de ser condenada pelo Concílio de Bale. A este respeito, a prática tradicional da Congregação para a Doutrina da Fé é dizer-nos que nos mantenhamos, num primeiro tempo, muito reservado face às afirmações dos místicos.

Justifica-se esta atitude, no sentido em que também existe muito falso misticismo, de casos patológicos. E esta é a razão pela qual levamos certo tempo a ver a temperatura a fim de reconhecer-se, no determinado caso, se não se trata de sensacionalismo, de invenção ou de superstição. Um místico prova a sua autenticidade pelo sofrimento, pela submissão, pela sua paciência e persistência. E é assim que ele se impõe à audiência.

Quanto à Igreja, deve evitar emitir prematuramente um juízo definitivo, a fim de evitar esta acusação:
"matastes os profetas".

Dom Ratzinger concedeu esta entrevista ao teólogo Niels Christian Hvidt no dia 16 de Março de 1998.