Pais, inimigos da alma dos filhos.
I. São Bernardo de Claraval:
"Oh pai duro! Oh mãe bárbara! Pais cruéis e ímpios! Mas que digo, meus 'pais'? Meus assassinos, que se doem da conservação do seu sangue, e se consolam com a morte de seu filho; que mais querem ver-me perecer com eles, do que reinar sem eles; que ainda me querem expor a um naufrágio, de que me livrei todo nu; a um fogo, de que apenas me salvei meio queimado; aos ladrões, que me deixaram meio morto: mas graças ao socorro do Samaritano, que estou um pouco curado.
Eles querem arrancar da porta da glória um soldado de Jesus Cristo, que está a ponto de triunfar, depois de ter arrebatado o Céu. (Eu não me atribuo esta glória, mas ao Senhor que venceu o mundo). Eles procuram arrastar-me outra vez ao século, como um cão ao seu vômito, e um porco ao seu atoleiro. Abuso espantoso! A casa arde, a chama me persegue, eu fujo, impedem-me que saia, aconselham-me que volte, e os que me aconselham são os mesmos que se acham envolvidos neste incêndio, e que por uma loucura sem igual, por uma obstinação incompreensível, não querem sair do perigo".
(S. Bernardo, apud Sentenças Espirituais dos Santos Padres e Doutores da Igreja, Lisboa:1800, tomo II, p. 280-281).
II. Beato Cláudio de La Colombière:
"Deus pune os filhos, nesta vida, por causa da negligência dos pais em educá-los. Pune os pais na outra vida, por causa dos crimes de seus filhos. Nenhuma arte pode ser comparada à arte de educar as crianças. Para triunfar aí é preciso que uma pessoa tenha virtudes raras e qualidades extraordinárias. Os pais devem não apenas amar seus filhos, mas devem amá-los sobre todas as coisas, e apenas a Deus estão obrigados a dar a preferência do amor. Os pais que não cuidam bem da educação dos filhos são mais cruéis do que os parricidas.
Estes separam apenas a alma do corpo; aqueles entregam uma e outro ao demônio. Há mães que cuidam muito bem da honra das filhas, mas muito pouco da consciência delas. As leituras vãs e lascivas, os adornos mundanos, os bailes, as comédias, as conversas demasiadamente livres, ao invés de proibi-las, elas as estimulam, por vezes chegam a forçá-las. Não sabeis que a fornicação espiritual é um crime entre os cristãos? Que fazeis na vossa família, se vós não trabalhais na educação dos filhos? Esta é a única coisa que tendes obrigação de fazer. É nisto que Deus quer ser servido. É para isto que estabeleceu o casamento cristão, é disto que vos pedirá contas."
(Beato Cláudio de La Colombière, Écrits Spirituels, Desclée de Brouwer, Paris: 1962, p. 317s).