O QUE É POIS A SANTA MISSA?

O QUE É POIS A SANTA MISSA?

         É o momento de entregar-se e responder a esta pergunta, para entender o sentido da escolha do pão e do vinho, feita por Jesus, na instituição da Eucaristia: Só na Missa temos a explicação de tudo.

          Ela “é algo mais que uma festa da união fraterna; é muito mais que um banquete de amigos ou que uma mesa para pobres. Não é pouco o momento de celebrar a dignidade humana, as reivindicações ou esperanças puramente terrenas. É o SACRIFÍCIO que torna Cristo realmente presente no Sacramento” (João Paulo II. 20.3.1990. aos Bispos brasileiros, na sua visita ad sacra limina).

          Por isso, é a celebração sacramental do Sacrifício do Calvário: o mesmo Sacrifício da Cruz, celebrado por Jesus, mediante o Seu ministro, autorizado por Ele a representá-Lo invisivelmente, sim, a agir em Seu Nome, na Sua Própria Pessoa.

          Sacrifício dito incruento, não porque diverso do cruento, mas porque é o mesmo, de que difere apenas na medida em que é oferecido sob as espécies do pão e do vinho, elementos que, distintamente consagrados, evidenciam simbolicamente a violenta separação do sangue do corpo da vítima imolada.

          Não é, porém, uma pura representação simbólica-comemorativa de quanto aconteceu há mais de vinte séculos, em Jerusalém. Certamente, é uma representação, mas o seu simbolismo não resolve em si ou só por si a realidade do SACRIFÍCIO: compreendemo-lo ou abrangemo-lo, refletindo em que a distinta consagração do pão e do vinho é o sinal da REAL e ATUAL MORTE DA VITIMA. Os dois elementos consagrados, de fato, já não são PÃO e VINHO, mas o próprio Cristo, com o Seu Corpo morto e o Seu Sangue derramado. Por outro lado, Cristo, como Mediador universal, não realizou o Seu Sacrifício, mas REALIZA-O, porque EXPIA os pecados cometidos da primeira à última geração humana, a respeito das quais Ele mesmo é contemporâneo, não podendo ser nunca, nem futuro nem passado para nenhuma delas.

          Três, pois, segundo o Magistério, são os pressupostos fundamentais, e entre si inseparavelmente ligados, do Sacrifício Eucarístico: o pecado de todos os tempos, a transcendência do Verbo Incarnado, a transubstanciação.

          A Missa não é a assembléia dos fiéis. Estes participam nela, mas não a celebram. E tanto isto é verdade, que a Missa é validíssima por si mesma, mesmo quando não esteja presente nenhum fiel. Nem qualquer presidente pode fazer de celebrante: mas apenas o SACERDOTE que, em virtude do Sacramento da Ordem, representa Cristo como Seu ministro.

          Representando Cristo diante do Pai, ele representa a Igreja. Seu Corpo Místico e, por conseguinte, também os fiéis que são os Seus membros. É em Cristo, pois, que é necessário fixar a atenção, uma vez que é Ele o único verdadeiro Celebrante, principal oferente ou oferecedor, como é a única verdadeira Vítima principal oferecida.

          Jesus é o próprio Verbo que, assumindo a natureza humana, lhe participa, com o Seu próprio ato de ser – filial- a infinita dignidade e poder que Lhe são próprios, como Pessoa Divina que é. Dignidade e poder que a todas as ações do HOMEM-JESUS conferem um valor imenso: precisamente aquele que é necessário para fazer de mediador capaz de reunir e conter em Si tudo quanto é criado, ou seja, de transcender e compreender ou incluir todo o curso das gerações humanas, e ser por isso o CENTRO a que todas e cada uma delas convergem, podendo assim perceber os frutos da Sua Mediação expiadora.

          Por conseguinte, se, incarnando, Ele Mesmo Se insere no tempo e Se reveste da natureza humana, sujeita-Se às suas leis e experimenta-lhes as misérias...; continua, porém, a salientar-Se e a dominar, pelo que é contemporâneo de cada indivíduo que, pecando, O faz agonizar na alma e no corpo. Portanto, a causa mais real da Sua Paixão é todo o pecador, enquanto, segundo o plano da Providência, a obra de juízes iníquos e de velhacos fanáticos tem sido apenas o instrumento e como que o símbolo das culpas humanas que, ofendendo a Deus, não tem cessado nem cessarão de trespassar o Coração de Cristo.

          Conclui-se assim, que o delito dos Judeus é como que o “signum” (sinal) de todos os pecados que, cometidos ao longo de todos os séculos, são os verdadeiros responsáveis de uma Paixão sempre em ato, ou seja, nem futura para alguns, nem passada para outros, mas sempre presente, a par da mediação do Verbo Incarnado, no centro de todos os tempos: Ele é Primeiro e Último, Alfa e Ômega, Princípio e Fim da História.

          Mais claramente: a Paixão não precede o pecado, mas segue-o, sendo este a sua causa. Não pode dizer-se que Cristo já sofreu pelas culpas do gênero humano (pelo que eu ficarei livre de pecar), porque sou precisamente eu, com as minhas culpas cometidas de um momento para o outro, que O firo. Perfeito é o sincronismo entre mim-pecador e Ele-morimbundo Jesus deixará de morrer, com o último pecado do homem.

 

         Para quê o Sacrifício Eucarístico?

É simples: para tornar possível à Igreja de todos os lugares e tempos, a participação na Oferta cruenta da Cruz. Ou seja, para que o pecador de todos os lugares e tempos, porque o ofender a Deus, se torne responsável da Paixão de Cristo, de forma a poder também fazer sua esta mesma Paixão, ou seja, expiar as suas culpas e deste modo se redimir ou salvar. E ele pode fazê-lo não apenas recordando uma Paixão sofrida há milhares de séculos: mas, sobretudo, instruindo ou compreendendo, à luz da fé, uma Paixão que, quanto ao seu conteúdo de mistério, perdura para além do rolar dos tempos num presente meta-histórico: precisamente a Paixão que o homem provoca em Cristo, todas as vezes que peca; aquela pela qual ele, fazendo-a sua, se reconcilia com Deus.

          A realidade dos fatos resume-se no pecado do homem e no Sacrifício de Cristo

         Sacrifício que o crente conhece pelo relato evangélico, em que está descrito tudo o que se refere aos seus elementos empíricos, conhecidos pelas testemunhas oculares da Paixão e, sobretudo, pela fé que o faz intuir ou compreender o seu sentido profundo, a sua finalidade altíssima, a sua eficácia infinita.

         Justamente aquilo que interessa à humanidade inteira, que pode elevar-se a contemplar o Mistério, apenas partindo do sensível; e daí, a necessidade de um rito externo que o revele. E eis então o SACRIFÍCIO EUCARÍSTICO. O qual, enquanto ou na medida em que renova a Última Ceia, celebra o idêntico Sacrifício da Cruz que, perfeito em si e por si irrepetível, é oferecido aos sentidos do crente pela distinta consagração do pão e do vinho, transubstanciados no Corpo e no Sangue de Cristo.

          Deste modo, a idêntica Imolação da Cruz oferece duas vertentes: uma constituída pela humanidade do Salvador, que sofre sob as aparências da natureza passível assumida pelo Verbo, tal como os Seus contemporâneos puderam observar, recordar e descrever, a nível do fenômeno ou da crônica (sub epecie própria – sob as Suas próprias espécies). A outra, sobrenatural, objeto de fé, consiste no mistério do Verbo Incarnado, Vítima de satisfação e redenção, velada sob as espécies sacramentais, ou seja, sob as naturais propriedades do pão e do vinho, distintamente consagrados (sub specie alienta – sob espécies alheias).

          E delas resulta portanto a única, intemporal, REALIDADE do Mistério sob dois diferentes sinais sensíveis e temporais:

         - as carnes a jorrar Sangue de Cristo moribundo na Cruz;

         - as distintas espécies consagradas do pão e do vinho, símbolo da violenta separação do Sangue, do Corpo do Salvador.

          Trata-se, portanto, de dois sinais: o primeiro é NATURAL, perceptível pelos sentidos; o segundo é SACRAMENTAL, inteligível pela fé, que abre o crente à transcendente verdade de Cristo, Sacerdote-Vítima. Só para ele a Missa é SACRAMENTO DO SACRIFÍCIO.

          Ora, se a Imolação de Cristo apareceu uma só vez sob as espécies da Sua natureza humana dolorosa, tendo depois ressuscitado e passando a ser impassível...; verdade é que são infinitas as vezes que ela pode apresentar-se sob as espécies sacramentais, isto é, tantas quantas são as celebrações eucarísticas, permanecendo sempre:

- idêntico o sacerdote,

- idêntica a Vítima,

- idêntica a oferta que Ele faz de Si.

          Por conseguinte, se é certo que podem celebrar-se inúmeras Missas único ficará sendo sempre o Sacrifício por elas significado. Ou seja: a Muitas Missas corresponde um só Sacrifício. Portanto, a Missa, Sacramento do Sacrifício, foi instituída para que os crentes pudessem participar no Sacrifício, mediante o Sacramento, e isto em virtude da transubstanciação, pela qual o próprio Jesus, corporalmente presente (como na Cruz) Se oferece, tanto ao Pai como Vítima de expiação, como a nós, como Alimento de vida eterna, significado pelas espécies sacramentais.

          Segue-se que, faltando a transubstanciação, a Oferta cruenta do Calvário acabaria por ser uma simples recordação e um artigo de fé na qualidade de Mistério: o qual não revelado aos sentidos se não prestaria a culto externo nem à Comunhão Eucarística sinal de unidade entre os membros do Corpo Místico, necessitados do sensível para se reconhecerem, se amarem e viverem juntos.