O MISTÉRIO DA DOR E DO SOFRIMENTO

O MISTÉRIO DA DOR E DO SOFRIMENTO

“Escutai-me, homens sensatos. Longe de Deus o mal e a iniqüidade!” (jó 34,10)

Alguém já me perguntou: “Se existe Deus que é amor, paz, vida e justiça, por que há tanto sofrimento no mundo”?.

No decorrer da História da Humanidade, muita gente tem padecido de dor, angústia e terríveis sofrimentos causados pelas guerras, atrocidades, crimes, roubos, injustiças, pobreza, fome, doenças, terrorismo, tráfico de drogas, armas e de mulheres, doenças sexualmente transmissíveis, principalmente a AIDS, depressão, desemprego, falta de amor, término de um relacionamento, um sonho não realizado e a perda de ente querido.

É incalculável o número de pessoas que foram e são torturadas, assassinadas e encarceradas injustamente, por causa da intolerância religiosa e divergências político-partidárias.

Dr. R. J. Rummel, professor emérito de Ciências Políticas da Universidade do Havaí, EUA, estima que, entre 1900 e 1987, vários governos mataram 169.198.000 pessoas durante exterminações políticas, genocídios e atos indiscriminados de violências. Essa taxa de mortalidade não inclui as dezenas de milhões de mortos nos campos de batalha no mesmo período.

Segundo a Organização das Nações Unidas, em pleno século XXI, a fome ceifa 5 milhões de crianças todos os anos (a cada segundo morre uma criança de fome).

Segundo uma publicação recente das Nações Unidas, os três indivíduos mais ricos do mundo, tem ao todo uma riqueza maior do que o total do produto nacional bruto das 48 nações mais pobres.

O mercado de luxo movimenta mais de 200 bilhões de dólares por ano, e este montante pode chegar a 1 trilhão de dólares daqui a cinco anos.

Já dizia o grande Bispo e Doutor da Igreja São Basílio Magno: “Se cada um conservasse apenas o necessário e dedicasse o supérfluo aos indigentes, não haveria mais nem ricos e nem pobres”.

O milionário escocês Andrew Carnegie (1835-1919), se desfez de 200 milhões de dólares antes de morrer. Foi muito ambicioso em acumulação de bem. Passou mais tarde a acreditar que morrer rico era “a desgraça de um homem”.

“A única vida que tem sentido é a que se vive para os demais”, disse o renomado cientista alemão Albert Einstein.

Há! Se todos praticassem o ato de Carnegie e o pensamento de Einstein e que não fosse verdade a afirmação do historiador inglês James Anthony Froude: “Os animais ferozes nunca matam por prazer. Só o homem se diverte com a tortura e a morte de seus semelhantes”.

Dor e sofrimento sempre vão fazer parte da existência da raça humana. Tudo por causa do nosso pecado de egoísmo, ganância, nossa falta de caridade e a nossa liberalidade para o mal.

Madre Teresa de Calcutá tinha consciência de que as suas atividades representavam apenas uma gota d´agua no oceano de sofrimento que existe no mundo.

 

O FIM DO SOFRIMENTO

O Senhor Deus não é a causa da nossa dor e do nosso sofrimento. Deus existe, apesar de sua tolerância e vontade permissiva diante do contrário da sua bondade, amor e justiça. Deus é Deus. O único verdadeiro. Sobre ele não existe nenhuma lei. Ele faz e age como quer de maneira justa e santa.

“Tranqüilizai-vos e reconhecei: Eu sou Deus” (Sl 46,11). “Um Deus de mistério” (Is 45,15). “Os pensamentos de Deus não são os nossos pensamentos e os nossos caminhos não são os caminhos de Deus” (Is 55,8). “O abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são insondáveis seus juízos e impenetráveis seus caminhos!” (Rm 11,33). “Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto e desce do Pai das luzes, no qual não há mudanças nem sombra de variações” (Tg 1,17).

Diante das intempéries da vida, só nos resta o poder da fé. Tudo o que se vê, sente, sabe e possui sem a fé, nada é suficiente no confronto com o desespero para firmar os pés no chão. Somente a fé em Deus, nos torna firme, forte, valente e vitorioso no embate com o sofrimento (Hb 11,1). “E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1 Jo 5,4).

Se o Bom Deus não causa o infortúnio, por que ele o permite? Porque questões universais e morais levantadas há bastante tempo ainda precisam ser solucionadas.

Temos ciência que há tempo para tudo (Ec 3,1).

No tempo de Deus há um propósito (Rm 8,28).

Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória que deverá revelar-se em nós (Rm 8,18). Nesse tempo presente somos mais que vencedores (Rm 8,37). A nossa fé em Cristo nos ilumina em toda verdade e por isso não seremos confundidos pelas dores dos sofrimentos (Rm 10,10 e 11).

São Paulo Apóstolo afirma que o último inimigo a ser destruído será a morte (1 Cor 15,26). Com a morte acabam radicalmente todos os sofrimentos para o cristão.

“Nisto ouvi uma voz forte que, do trono, dizia: “Eis a tenda de Deus com os homens. Ele habitará com eles; eles serão os seus povos, e ele, Deus-com-eles, será o seu Deus. Ele enxugará toda lágrima dos seus olhos, pois nunca mais haverá morte, nem luto, nem clamores, e nem dor haverá mais. Sim! As coisas antigas se foram!”. (Ap 21,3.4)

 

A RESPOSTA DA CRUZ

O Papa João Paulo II, em sua carta apostólica Salvifici Doloris sobre o sentido cristão do sofrimento humano, nos remete a reflexão sobre o valor salvífico desse sentimento. O Papa reconhece que é muito difícil encontrar uma resposta adequada e convincente sobre o porquê do sofrimento. Ele é, em primeiro lugar, um mistério, e sempre são insuficientes nossas explicações a seu respeito. Para abordá-lo de maneira adequada, disse João Paulo II, nossa atenção deve voltar-se para a revelação do amor de Deus. “Cristo introduz-nos no mistério e ajuda-nos a descobrir o porquê do sofrimento, à medida que nós formos capazes de compreender a sublimidade do amor divino”. “O amor é ainda a fonte mais plena para a resposta à pergunta acerca do sentido do sofrimento. Essa resposta foi dada por Deus ao homem na cruz de Jesus Cristo” (Salvifici Dolores, 13).

 

CONCLUSÃO

Vivemos a era da ostentação do progresso científico e do avanço da tecnologia. Todavia, a humanidade sofre com tantas mazelas das doenças, violências, pobrezas, fome, deteriorização do relacionamento familiar e a degradação ambiental.

A nossa sociedade é marcada pelo consumismo, hedonismo e individualismo. Muita gente vive a velocidade da internet. Ansiosa, desesperada, veloz pelo utilitarismo e arrivista. Carregando muito peso, mas no fundo, vazia de tudo e de todos. A alma hoje é transgênica, que vai ao encontro da metamorfose ideal com tudo, e não encontrando absolutamente nada.

A dimensão da vida está comprometida com os desejos condicionados ás práticas banais, infelizes e mortais.

Os ideólogos do sistema atiçam e condicionam os mais profundos dos desejos do ser humano á prática do objeto comercial. Se por um lado a ciência e a tecnologia podem aliviar ou curar a dor do moribundo, por outro, o sadio como objeto de lucro é manipulado a enfermidade da alma e do corpo. Sendo assim, o ser humano é a peça fundamental da indústria técnico-científica.

Já dizia a sentença latina: “Dólor ánimi nímio grávior est quam córporis – A dor da alma é muito mais penosa que a do corpo”.

Aqui entra a indústria farmacêutica com seus maiores lucros devidos às doenças da alma. Alastram-se pelo mundo inteiro as doenças psicossomáticas, pânico, ansiedade, fobias e depressão.

Hoje como nunca, o ser humano é guiado pela emoção da alma, fantasias, entretenimento, ganância e vícios, deixando de lado a racionalidade e a realidade da vida.

Para tais pessoas resta o fundo do poço ou o túmulo.

Para nós cristãos, promotores da vida e da justiça, cabe a nós homens e mulheres de boa vontade a sentença latina: “Opus divinum est sedáre dolórem – É obra divina aliviar a dor alheia”.

A nossa missão é conscientizar o povo sobre o sistema com a sua cultura de morte.

Ensinar a verdade do Evangelho de Jesus Cristo, que tem poder de libertar as pessoas de serem usadas como objetos e massa de manobra pelo sistema.

Aliviar a dor e o sofrimento em toda a sua forma de ser. Doutrinar o ser humano do seu valor e da sua dignidade como imagem e semelhança de Deus.

Santo Agostinho: O supérfluo do rico é o necessário do pobre.

Pe. Inácio José do Vale