TEMPO DE PERDOAR

Há perdão que se dá…
Há perdão que se recebe…
Porque agora é tempo de perdão!
E o tempo urge! É tempo do fim!
Quem sabe quanto dura este pouco tempo que nos é dado?
Agora é tempo de construir pontes de Amor, de Perdão e de Misericórdia!
Agora não é tempo de cavar abismos de ódio, de falta de perdão e de misericórdia! Porque o tempo é pouco!
E quando o tempo acabar e nos encontrarmos nos umbrais da Eternidade, choraremos o tempo que perdemos em tantas coisas inúteis.
Choraremos o tempo que perdemos em rancores, em ódios, em ressentimentos.
Choraremos o tempo gasto em coisas que não servem para o reino de Deus.
Choraremos o tempo gasto no pecado…
Mas será tarde e já não teremos tempo para emendar a vida!...
Agora é o tempo do Amor de Deus, o tempo em que a Misericórdia se derrama sobre nós em oceanos de ternura.
Agora é o tempo de derramar essa ternura sobre o próximo!
Agora é o tempo de corresponder a tanto Amor com o nosso sim!
Agora é o tempo de pagar o Amor com o nosso amor pobrezinho, mas por Deus tão desejado.
Agora é o tempo de receber o perdão… antes que seja tarde…
Mas para receber o perdão é preciso perdoar… e nós perdoamos?
O que é que devemos perdoar? Que coisas temos nós que nos magoam?
Tudo o que nos magoa é motivo para receber o nosso perdão.
Não só perdoemos as grandes ofensas, mas também aquelas pequenas coisas que facilmente esquecemos, mas que ficam no inconsciente a ferir a alma e nos dão aquela “experiência da vida” de que por vezes falamos com alguma amargura.
Não só temos de perdoar àquela pessoa que nos magoou com más palavras, com injúrias, com difamações, calúnias ou maus tratos, mas também àquela que nos empurrou na hora de entrar para o transporte público, a que nos passou à frente indevidamente na fila onde esperávamos a nossa vez.
Temos de perdoar aos médicos que não descobriram a nossa doença ou nos deram tratamentos que não resolveram ou até aumentaram o nosso problema. E também àqueles que assim procederam com alguém muito querido da nossa família.
Temos de perdoar aos professores que na infância nos ensinaram de maneira pouco satisfatória ou por vezes injusta e para os que assim procedem com os nossos filhos, embora procuremos resolver para eles o problema escolar.
Temos de perdoar aos nossos colegas de trabalho que além de não nos ajudarem, nos prejudicam e passam à frente nos empregos e promoções.
Temos de perdoar aos nossos chefes e patrões as suas atitudes autoritárias, a sua falta de compreensão para com as nossas falhas.
Temos de perdoar aos nossos amigos por se esquecerem de nós, quando mais precisávamos de conforto, que se esquecem do bem que lhes fizemos e por vezes nem nos agradecem… e também àqueles que nos traem!...
Temos de perdoar aos nossos governantes por não cumprirem as promessas feitas e por nos darem uma vida que não é aquilo que desejámos.
Temos de perdoar aos que trabalham na comunicação social e artistas, por nos apresentarem notícias e espetáculos que nos chocam, que não estão conformes os nossos princípios morais.
Temos de perdoar as faltas de atenção dos nossos vizinhos, dos empregados nas lojas que não nos atendem como pensamos que temos direito.
Temos de perdoar aos advogados e juízes que nos defenderam ou julgaram com injustiça.
Temos de perdoar aos nossos pais que nos na infância nos trataram de um modo que nos desagradou, nos humilhou ou de alguma forma nos fez sofrer, os que não nos deixaram seguir a carreira ou a vocação que sentíamos, os que impediram o nosso casamento, os que amarguraram a nossa infância com maus tratos ou más palavras, o mau caráter, os que se separaram e nos deixaram “órfãos de pais vivos”. E temos de lhes perdoar também as doenças e manias com que nos fizeram sofrer, quando os tivemos de acompanhar na velhice.
Temos de perdoar aos nossos ancestrais que nos legaram certas más tendências, certas doenças, certos problemas hereditários corporais ou espirituais, que emigraram e nos fazem viver agora num país de que gostamos pouco.
Temos de perdoar aos nossos filhos os incómodos passados, as noites sem dormir, a gravidez de risco, as dores do parto, as birras, as despesas, as más respostas, os maus resultados na escola, as más companhias, o tempo em que nos esquecem e preferem a companhia de outras pessoas, as doenças, as drogas, a vida imoral…
E temos de perdoar também aos filhos que não nasceram… não porque eles tenham culpa, mas porque nós temos esse espinho a magoar…
Temos de perdoar ao nosso cônjuge os hábitos e tendências de que não gostamos, a falta de arrumação, de atenções, de economia, de companhia, de delicadeza, de religião, de fidelidade…
Temos de perdoar aos nossos familiares as preferências por outras pessoas, aos nossos sogros, noras e genros, cunhados, pelas formas de falar, de agir, e pelas desavenças que por vezes provocam nas nossas casas.
Temos de perdoar aos nossos sacerdotes e outros membros da Igreja, porque não nos atendem como gostaríamos, porque não rezam ou celebram como mais nos agradaria, ou porque de alguma forma um dia nos magoaram.
E temos de nos perdoar também a nós mesmos, porque muitas vezes deixamos o remorso pelas faltas morder-nos como cão selvagem e roubar-nos a esperança… e porque deixamos que a falta de confissão nos afaste do perdão de Deus.
Se nos perdoarmos a nós mesmos, conscientemente, também desejaremos que Deus nos perdoe… então a paz estará nos nossos corações.
Mas para ir à Confissão temos de encher-nos de perdão… perdão para os outros, seja quem for… e perdão para nós.
Quantas vezes dizemos que perdoamos, mas o perdão é apenas palavra formada pela língua pecadora… e não sai do coração, porque no coração temos abundância de ressentimento!
Se dizemos que perdoamos, mas sem necessidade falamos daquilo que nos fizeram… não perdoámos!
Se dizemos que perdoamos, mas pensamos muitas vezes nos motivos dos agravos, e neles vamos remexendo, como em ferida infetada… não perdoámos!
Se dizemos que perdoamos, mas continuamos virando a cara a quem nos magoou, dizendo que não esquecemos… não perdoámos!
Se dizemos que perdoamos, mas continuamos falando nisso e exibindo perante o mundo as “maravilhas” do nosso perdão… não perdoámos…foi um perdão falso, para o mundo ver… que nas troças do mundo encontrará a recompensa!
Nunca nos confessaremos bem, enquanto levarmos para a confissão um coração com rancores ou ressentimentos, e de lá sairmos sem terem desaparecido.
É certo que a dor da traição, dos maus tratos ou más palavras pode permanecer algum tempo, mas a força do perdão fará entrar a paz e com a paz a serenidade, que aos poucos irá fazendo desaparecer a dor.
Enquanto estamos na terra é tempo de tratar do perdão, do nosso perdão e do perdão de Deus, que está sempre dependente do nosso.
Enquanto é tempo!...
Agora é o tempo… é o tempo do Amor… do perdão… e da Misericórdia!
Não deixes para amanhã… pode ser tarde demais!

Maria, de Portugal